top of page

A Observadora

Foto do escritor: Eduardo BatistaEduardo Batista

Como gosto de observar! Tantas coisas no mundo que gostaria de fazer, mas fico apenas observando. Pelo menos é uma observação, digamos interessante.

Já presenciei muitos acontecimentos, cada um com sua essência e intensidade. Sou uma bailarina e normalmente sento na mesa da janela de um restaurante. Raramente não sento ali.

Lá embaixo as pessoas passam rumo aos seus destinos. Uma bancária indo trabalhar, adolescentes indo para escola, pessoas indo aos mais diversos lugares e nunca me percebem. Mas também eu estou aqui em cima. Contudo, há aqueles que se sentam na minha frente. Alguns sozinhos, outros acompanhados e uns grupinhos também, mas mesmo assim eles não me percebem.

Observá-los de perto é mais interessante. Consigo escutar o que dizem.

Teve uma vez que um casal estava aqui e o celular do homem vibrou. A tela do aparelho ascendeu e a namorada viu uma mensagem, nada confortante, de uma outra mulher.

Pude ver em seus olhos a raiva caindo em lágrimas. Mais tarde, provavelmente, seriam de tristeza. Se não fosse o garçom tirando a mesa, ela o teria agredido.

Lembro-me também de um grupo de amigos que estavam se reencontrando após o colegial. Quanta felicidade junta! Conversavam sobre o que estavam fazendo da vida, a faculdade, se ainda mantinham contato com alguém... O mundo precisa de mais amigos assim, sabe?

Entretanto, flores não são eternas. Meus Deus, que cena triste! Se pudesse, teria chorado junto aquele menino.

Ele estava almoçando quando seu telefone tocou. Era sua mãe dizendo que seu pai havia falecido. Não consegui ouvir direito como aconteceu, só que fora um acidente.

Ele não mostrou desespero nem agonia. Desligou o celular e voltou a comer, porém as lágrimas invadiam seus olhos. Era aquele choro silencioso em que só os olhos dizem o que se passa no coração.

A chuva caía lá fora e as gotas faziam curvas na vidraça. Queria confortá-lo, dizer algumas palavras amigas, mas não pude.

Um dia qualquer, depois de aceitar minha insignificância e invisibilidade para aqueles estranhos, o inesperado aconteceu.

Um grupo de amigas, terminando o almoço, ao se levantarem para irem embora, uma delas disse: _Que bailarina linda!

Não sei se alguém escutou. Eu mesma não estava acreditando naquilo. Durante dias, meses, anos fiquei ali, adornando a mesa daquele restaurante e pela primeira vez, embora não pudessem ver, meu sorriso brilhou.

5 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Os segredos estão nos dedos

Um mini conto inspirado pela música Falange da banda "Quarto do L"

Omissão

Morei num condomínio em uma cidade do interior do Rio de Janeiro. Este caso me afetou bastante e até hoje não sei exatamente o que dizer....

Comments


RECEBA MEUS EMAILS

Obrigado pelo envio!

© 2035 por Coisas Encantadoras. Orgulhosamente criado com Wix.com

  • Instagram
  • LinkedIn
bottom of page