Minha percepção de tempo mudou. Quando menino eu me perguntava "como os adultos não conseguem lembrar direito da infância?". E com esse olhar de criança, hoje, eu também me faço esse questionamento.
Eu sabia quantos anos tinha e o que eu havia feito em qualquer ano. Lembrava de cada colega de turma, as casas que alugávamos na praia, os telefones, datas, podiam me perguntar qualquer coisa que eu lembrava. O tempo passava devagar. Ou a parte inicial da vida não tem tantas informações que fazem a mente processar ininterruptamente os estímulos que chegam. Era mais fácil gravar na mente.
Sabe a parte engraçada nisso? Apesar de não lembrar mais detalhe por detalhe, basta uma música, foto ou alguém contar uma história pra acessar as memórias. O tempo passa e deixa as suas marcas. Acho que esse também é o fluxo da vida para que possamos continuar seguindo em frente. Não ter amarrar no passado, mas sem esquecer a história e os caminhos percorridos.
Voltando a minha percepção de tempo, esquecer também é associado a envelhecer, quase que sinônimo de perda de saúde. Então, estou ficando velho?
A paranoia dos trinta me pegou e ainda tem um ano pra chegar lá. Não que eu tenha problema em envelhecer, mas o simples fato das memórias começarem a serem arquivadas, colocou uma pulga atrás da minha orelha.
Realmente, o presente e o futuro são os tempos que mais passam aos meus olhos. O primeiro porque eu estou aqui e agora. O último porque eu não tenho ideia do que pode acontecer. É um mistério. Citando a poesia na música de Nana Caymmi, o tempo sabe passar e eu não sei. Contudo, depois de tanto lembrar, rir, chorar, viver, eu posso e ele não vai poder me esquecer. Então não tem nada ver com a forma pejorativa de perder saúde, mas de que meu corpo não atua como em outra época. O ritmo é outro.
Talvez por isso minha percepção tenha mudado. Uma hora o envelhecer vem, mas a vida não é isso? Um eterno saber envelhecer? E o tempo é a eterna ironia de todas as horas. Quando você vê, passou. E quando menos espera, está aqui. Tempo, tempo, tempo, tempo...
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