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Vicente ficou pronto!

Foto do escritor: Eduardo BatistaEduardo Batista

Em 2014 eu entrei num fastfood para almoçar. Sentei no banquinho alto, tirei o caderno vermelho da bolsa e encarei a primeira folha que ainda estava em branco. Por diversas vezes eu havia feito aquela cena, esperando uma iluminação para começar a escrever.

O que aconteceu foi que comecei a me projetar na história, a construir o personagem como eu gostaria de ser. Assim, Vicente foi nascendo, a minha imagem e semelhança.

Porém, os temas que eu queria escrever ainda me eram sensíveis, e larguei a história por diversas vezes. Reescrevi o início, escrevia cenas isoladas na tentativa de tornar mais fácil o processo, mas não adiantou. Deixei quieto, mas nunca parei de pensar.

O que eu jamais pensaria era que, sem perceber, escrevi o livro ano após ano. Eram textos soltos, outros personagens, outros pensamentos, tudo outro, mas quando me dei conta, Vicente sempre esteve ali, escondido entre as palavras. Carinhosamente o chamei de Frankenstein.

Juntei tudo, contudo, existiam lacunas entre os textos e eu não tinha ideia do que fazer. Frustração, por mais uma vez encontrar obstáculo, se infiltrou em mim e Vicente entrou em modo de espera de novo. Aposto que ele me bateria, se pudesse.

Então, quando menos esperava, aquela auto projeção deixou de ser eu para se tornar independente. Nove anos após vir ao mundo, em uma aula da pós graduação, Vi gritou em minha cabeça. Meu projeto era outro livro, com um personagem completamente diferente, que acabou dando lugar para o jornalista mais cabeça dura que eu conheço.

Em 2023, Vicente ficou pronto! Bom, pronto de terminar a escrita, digo. Depois disso, por cinco vezes eu revisei esse garoto. Por cinco vezes eu chorei por ele e com ele. Aumentei sua história, refiz passos, lapidei no que podia lapidar. E se eu revisar uma sexta vez, a caneta vai pesar, com certeza.

Cada um tem seu tempo e o meu demorou mais do que eu queria, mas foi o tempo de amadurecer as ideias, de ser capaz de enfrentar os personagens e tratá-los do jeito que mereciam.

Eu me encantei com Vicente como se fosse um filho e eu nem sei o que é ser pai. É louco pensar que um personagem esteve ali o tempo todo, crescendo, falando, vivendo junto comigo. Como uma pessoa real, mesmo.

Em um dia ou dois, título final da obra, em breve chegará aos leitores, e imagino que eles também vão se encantar com Vicente.

Aprendi nesse processo que a vida é complica, mas não é difícil. A gente que é. Vicente me ensinou que é preciso saber olhar esses momentos com carinho e ser grato, por todos eles.

Fui de escritor jardineiro a arquiteto e me embolei entre os dois. Vivi uma escrita confusa, depois fui costureiro, lapidador e no fim deu certo. Escrever deu certo. Foi terapia e amadurecimento não só no ofício, mas aqui dentro.


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